ISEL Formula Student: muito mais do que projeto

Foi na sala M 0.32 do pavilhão de Mecânica, do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, que encontrámos, Gonçalo, Tiago, Alexandre, Adolfo e Pedro, cinco dos 52 membros da atual equipa ISEL Formula Student (IFS), projeto extracurricular, que existe desde 2013, e que começou com a tese de um aluno sobre a suspensão de um carro Formula Student. A equipa acabou por usar a tese para desenvolver um veículo.

No espaço, a que chamam garagem, cedido pela direção do ISEL, estão à entrada, como que um cartão de visita, o veículo de combustão e o veículo com motor elétrico,o 02, resultado de anos de trabalho da equipa apoiada pelo Politécnico de Lisboa. E foi do IPL que, neste ano, surgiu um importante apoio, com a compra de um inversor, cujo valor ronda os 5 a 6000 euros, componente importante para o carro, já que controla o motor e fornece energia. Atualmente, são 35 as empresas patrocinadoras.

Tiago é estudante de engenharia Eletrotécnica, mas explica que, na IFS, a maioria dos membros estuda engenharia Mecânica. No recrutamento há liberdade quanto à escolha do grupo que cada estudante quer integrar. “Respeitamos os interesses de cada estudante, atendendo ao curso”.

Os novos membros, “recrutas” como os chamam, iniciam o percurso com o projeto Solar Car, “é uma forma de ganhar experiência, antes de avançar para a equipa Formula Student”, refere Tiago. Acaba por ser a melhor forma de gerir uma equipa com mais de 5 dezenas de alunos.

Gonçalo Silva, aluno de engenharia Informática Redes e Telecomunicações é o team leader. Foi indicado pela antiga direção e eleito por unanimidade pela restante equipa. Ainda que muito associado à área da Mecânica, o jovem estudante explica que o IFS é um projeto multididático, que contempla a componente de eletrónica, ainda que mecânica seja central.

Sobre o funcionamento do projeto, refere ser, como se de uma empresa de tratasse. “Todas as áreas precisam de colaboradores, desde o recrutamento à obtenção de patrocínios. Gerir a produção do carro, até na relação com a direção do ISEL e do Politécnico de Lisboa”. A diversidade quanto à área de formação é, segundo Gonçalo, importante para desenvolver soft skills dos alunos.

Os professores do ISEL têm um papel muito importante no apoio à equipa, ainda que esta tenha que ser autónoma. “Este apoio não se traduz ao nível do carro” ressalta Gonçalo. “É um requisito da competição que o projeto seja totalmente feito por alunos”, refere. No entanto há um faculty advisor, que representa a equipa e a instituição na competição, papel assumido por Paulo Almeida, investigador e técnico de laboratório.

Sobre a competição

A Formula Student é uma competição internacional que tem como objetivo promover e avaliar a concepção e construção de um veículo de corrida, monolugar, para competir com estudantes de instituições de ensino superior. Dividida por categorias, neste momento abrange projeto, veículos de combustão, veículos elétricos e veículos autónomos (sem condutor). O número de vagas para competir varia consoante o país onde se realiza, podendo chegar às 80, no caso da Alemanha, que tem principal competição da Europa.

Pedro Correia é aluno de engenharia Eletrónica e Telecomunicações e já participou em duas competições Formula Student. Explica que a equipa demora um ano a desenvolver o projeto e dedica o ano seguinte à construção do veículo.

No ano dedicado ao projeto, podem participar em competições, mas só nesta categoria, na qual o veículo não é apresentado fisicamente. Ao longo do percurso da IFS, a equipa já participou em cerca de 6 ou 7 competições, tendo conquistado o primeiro lugar da competição, em 2017, na categoria de projeto, aquando do desenvolvimento do veículo com motor elétrico.

A equipa já está a trabalhar na categoria de veículo autónomo, sendo Adolfo o diretor técnico de software. O projeto ainda é embrionário porque tiveram que começar de raiz, e aprender tudo o que lhes permite levar a cabo esta missão. “Temos que ser um pouco autodidatas, em 3 anos não conseguimos aprender tudo”, diz o estudante referindo-se à duração da licenciatura.

Mais do que uma equipa

Com a rotatividade de membros, nem sempre é fácil transmitir o conhecimento entre elementos da equipa que saem e entram. Esta é aliás uma melhoria que falta fazer, segundo Tiago, que poderia levar a uma melhor gestão do projeto.

Periodicamente fazem eventos de team building para melhorar as relações dentro da equipa, no entanto, a pandemia levou a que arranjassem formas alternativas de manter o contacto. A partir da sugestão de um colega, criaram um servidor para manter o contacto e sempre que possível falavam e organizavam o trabalho a partir deste.

Quando têm dúvidas de cariz técnico, ou pedem ajuda aos professores, ou procuram por si mesmos e tentam realizar workshops gratuitos, que contribuam para ganhar mais conhecimento e experiência. “A cultura dentro da equipa é de partilha, os mais velhos transmitem tudo o que sabem aos membros mais novos”, diz Tiago.

Para Tiago, o ISEL Formula Student é, “quase como uma escada rolante que ajuda a ir em frente”. “O IFS ajuda-nos a sermos uma melhor versão de nós próprios. Aprendemos a ser responsáveis, a gerir tempo, a desenvolver competências sociais e crescemos imenso como pessoas”, afirma com convicção.

Já para Adolfo a IFS significa estarem todos focados num objetivo comum e poderem mostrar a capacidade da equipa. E é de uma verdadeira equipa que trata. Para Pedro ajuda a IFS “é quase como uma família que nos ajuda a crescer”.

Alexandre é aluno de engenharia Informática e Multimédia, e quase nunca desviando os olhos do computador ao longo da conversa, completa as palavras dos colegas ao dizer que, sem este projeto não teria metade do conhecimento que tem atualmente. Para além de construir um carro, pode desenvolver relações interpessoais. “Sempre tive dificuldades em falar com pessoas, e na ISEL Formula Student, estou à vontade para fazer o que for preciso”.

Gonçalo diz que aprendeu, na IFS, que o primeiro passo é o mais importante. Entrou para a equipa de veículo autónomo, em 2019. Na altura objetivo era desenvolver este tipo de veículo e o projeto ainda não tinha alunos. “Ninguém sabia o que fazer. Entregam-nos uma tarefa, a concorrência é altamente exigente e o júri também. Nós olhamos para a tarefa como algo completamente impossível de atingir, achamos que não somos capazes e depois percebemos que o primeiro passo é o mais difícil, começar. Passado algum tempo percebemos que, afinal, está a acontecer”.

Flickr photos from the ISEL Formula Student album.